sábado, 23 de fevereiro de 2013


Ator Pós-Moderno

De agora em diante,
não mais encarnarei fantasmas
de outro tempo e lugar.
Estou farto de expelir palavras alheias,
paixões importadas,
retórica elisabetana e absurdo francês.
Agora, no tablado ou em qualquer parte,
serei eu mesmo, eu próprio, ego ipsum
eu e eu, presença onipotente
na plenitude deste aqui-agora.
Meu corpo enfim, despido de personas,
será servido no banquete das sensações,
vida a vazar das veias,
sem outra metáfora senão o sangue jorrando
na epiderme desta aura intransferível.
Fora a corcunda de Ricardo III, a tiara de Blanche Dubois,
Não mais! Não mais!
Longe de mim os heróis do povo, os vilões
capitalistas de casaca,
as velhas beatas e todas
as histéricas nelson-rodriguianas!
Eu, apenas eu, euzinho pura e simplesmente,
na entrega de meu corpo irredutível
à vertigem do olhar.
Abaixo a representação, o eterno macaquear de seres de papel!
Todos saberão que sou eu, eu mesmo, o único
autor e executor
deste campo irradiante de energias.
Eu enfim meu tema e assunto e circunstância,
na pura epifania de mim-mesmo!

Só um detalhe ainda me atrapalha
e bem sei quem mora aí:
ninguém menos que Mephisto,  o arqui-inimigo
o intrigante, o embusteiro, o pai das ilusões.

Só um detalhe, um mísero detalhe:
- Quem sou eu?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE TEATRO
GRUPO DE PESQUISA DRAMATIS

APRESENTAM

CICLO DE LEITURAS DRAMÁTICAS DA UFBA

NOVA DRAMATURGIA – BARRA 69


Por volta de 1968 aparece na cena brasileira, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas não se restringindo a estes lugares, uma geração de dramaturgos inaugurando uma tendência inovadora: José Vicente, Leilah Assumpção, Antônio Bivar, Consuelo de Castro e Isabel Câmara, os autores mais representativos.

Uma das características imediatamente visíveis nos textos é o viés autobiográfico, apresentado por meio da linguagem despojada das regras literárias articuladoras da dramaturgia que se fazia até então. O forte acento confessional singulariza a produção dos textos, tornando-os bem diversos da produção dramatúrgica posta em movimento pelos Seminários de Dramaturgia do Teatro de Arena de São Paulo iniciado em 1958, de forte acento político e social.

Antônio Bivar, Consuelo de Castro, Isabel Câmara, Leilah Assumpção, Isabel Câmara e Zé Vicente afastam-se dos temas e das formas trabalhadas pelos autores que produziram uma dramaturgia engajada, voltada para a discussão dos problemas sociais. Tomando outro rumo, os jovens autores optam pelo confessionalismo, instaurando o poético e o político por outro viés. Estão em cena, não mais os personagens como o favelado, o vaqueiro, o retirante, o operário, entre outros, mas aqueles oriundos da classe média urbana que perde o rumo diante dos acontecimentos nacionais e internacionais.

É sabido que a finalização da década de sessenta é plena de reviravoltas: questionam-se hábitos, costumes, posicionamentos políticos e estéticos. Em meio ao ambiente contracultural, o Brasil vive o auge repressivo do governo civil-militar. Assim, os personagens criados pelos novos autores espelham a situação daquele momento.

Ao longo do tempo, boa parte da dramaturgia deste Ciclo de Leituras Dramáticas da UFBA foi esquecida. Ainda que Zé Vicente receba a atenção dos encenadores no presente, Leilah Assumpção e Consuelo de Castro continuem produzindo para o palco, Antônio Bivar, um dos participantes mais transgressores do grupo, já não escreve para o teatro. Isabel Câmara completa o quadro que comporta também Carlos Alberto Soffredini, Mário Prata e o baiano Ariovaldo Matos.

Seis textos compõem o Ciclo de Leituras Dramáticas – Nova Dramaturgia Barra 69: O Assalto, de Zé Vicente (Direção Harildo Déda), Fala Baixo Senão Eu Grito, de Leilah Assumpção (Direção Ewald Hackler), O Desembestado de Ariovaldo Matos (Direção Sérgio Nunes Melo), As Moças, de Isabel Câmara, (Direção Elisa Mendes), À Flor da Pele, de Consuelo de Castro (Direção Eliene Benício), Cordélia Brasil, de Antônio Bivar (Direção Celso Nunes).

A escolha dos textos baseia-se na importância que tiveram quando levados ao palco e por conterem elementos que dialogam com o presente. Ao serem revelados, os autores receberam a atenção da crítica e do público, atraídos que foram pelas abordagens existenciais levadas à cena de maneira violenta, cruzando-se aspectos autobiográficos e os ficcionais, figuradores dos impasses de uma geração cerceada pela situação política brasileira. São textos cuja potência não diminuiu e são merecedores de novas leituras.Não haverá cobrança de ingresso. 

Não haverá cobrança de ingresso. Para os espectadores que assistirem três leituras do Ciclo será fornecido um certificado.
PROGRAMAÇÃO
  
O ASSALTO
Zé Vicente

DIREÇÃO
Harildo Déda

ELENCO
Nando Zâmbia, Vinícius Martins,
Patrícia Oliveira
TEATRO MARTIM GONÇALVES
26 de fevereiro, 18:30
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FALA BAIXO SENÃO EU GRITO
Leilah Assumpção
DIREÇÃO
 Ewald Hackler
ELENCO
 Joana Schnitman e Osvaldo Baraúna

TEATRO MARTIM GONÇALVES
27 de fevereiro,18:30

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O DESEMBESTADO
Ariovaldo Matos
DIREÇÃO
Sérgio Nunes Melo
ELENCO
Newton Olivieri, Ana Tereza, Thiago Carvalho
Larissa Raton

 TEATRO MARTIM GONÇALVES
05 de março, 18:30

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 AS MOÇAS
Isabel Câmara 
DIREÇÃO
Elisa Mendes
ELENCOMárcia Andrade
 Laura Sarpa; 
Amauri Oliveira
TEATRO MARTIM GONÇALVES
06 de março, 18:30

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À FLOR DA PELE
Consuelo de Castro
DIREÇÃO
Eliene Benício
ELENCO
Eveline Ferraz, Raimundo Matos de Leão
Marcos Moreira
TEATRO MARTIM GONÇALVES
12 de março, 18:30

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CORDÉLIA BRASIL 
Antonio Bivar
DIREÇÃO
Celso Nunes
ELENCO
Jacyan Castilho, Marcelo Praddo, Saulus Castro
Antonio Fábio
TEATRO MARTIM GONÇALVES
13 de março, 18:30 
Coordenação do Ciclo de Leituras
Raimundo Matos de Leão
Joana Schnitman