domingo, 14 de outubro de 2012

Meu apoio Hebe Alves


Faço parte do grupo de professores recém concursados. Portanto, considero-me novo na Escola de Teatro, embora velho, pois fui aluno do Curso de Formação do Ator. Em seguida, como estudante da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, cursei uma disciplina optativa e convidado por Possi Neto tornei-me seu assistente na inesquecível encenação de "A Casa de Bernarda Alba". Foi aí que eu me aproximei de Hebe Alves, aluna e uma das atrizes. Quando fiz "As Feras", último trabalho antes de seguir para São Paulo, Hebe estava no elenco. Ao retornar, depois de muitos anos, Hebe e Deolindo me convidaram para dirigir o XVI Curso Livre de Teatro, experiência que me fez reatar com o teatro. Em todos os momentos, a presença de Hebe foi sempre a do artista que se mostra apaixonado por sua arte e por ela se impõem no mundo. Como eu acredito que a Escola de Teatro necessita de alguém que tenha uma profunda ligação com as artes cênicas, é que eu apoio Hebe Alves para a direção. Não farei desta consulta um campo de batalha, mas não posso trair meus princípios. Tenho profundo carinho e respeito pela comunidade da Escola de Teatro, seus estudantes, seus técnicos, seus  professores, mas o que eu quero, agora, é ver uma outra coisa. Sem nostalgia, devemos olhar o passado e retirar dele aquilo que ficou como potência, o irrealizado, as promessas. Quem esquece o passado não pode olhar para frente. Eu quero seguir em frente... A alternância de pessoas e ideias é salutar para qualquer instância de poder, já que a manutenção pode se tornar perigosa. Por tais motivos, a minha opção é pelo plano de trabalho apresentado por Hebe Alves.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Lançamento do Livro GILBERTO GIL: a poética e a política do corpo


Gilberto Gil: A Poética e a Política do Corpo, de Cássia Lopes, impõe-se como uma das mais atualizadas e definitivas leituras desse ícone da cultura brasileira, trabalho que reúne experiência acadêmica, sensibilidade analítica e compromisso político. A qualidade da abordagem justifica-se graças à nova configuração assumida pela academia na atualidade, não se limitando a apontar a excelência do trabalho de determinado autor, mas incorporando-a à imagem do intelectual, do formador de opinião e do homem público. No atual cenário das artes, é impossível descartar o modo performático como são concebidas e executadas as obras, prevalecendo os recursos cênicos e a opção pela oralidade, ao lado da atuação corporal, cotidiana e profissional dos intérpretes.
Nada mais justo do que considerar a atuação do artista ao lado da do político, uma vez que o projeto poético do compositor nunca abriu mão de seu compromisso com a estetização da vida cotidiana, da exuberância e do entusiasmo pela conjunção vanguardista entre arte e vida. O resultado da leitura assinada por Cássia, e publicada pela editora Perspectiva, é a prova mais eficaz de um labor de pesquisa que soube lidar com o arquivo musical de Gil, com sua presença na mídia televisiva, jornalística e livresca, além de se valer de sofisticada bibliografia teórica no campo da crítica cultural. Os anais da historiografia musical brasileira irão, sem dúvida, se enriquecer com a reflexão e sistematização contidas neste livro, uma das raras oportunidades de conjunção entre sensibilidade ensaística e precisão documental.
Ao leitor, é oferecido o privilégio de poder usufruir de uma reflexão que redimensiona políticas identitárias e poéticas musicais, por meio da imagem de um dos mais importantes e reconhecidos compositores de nosso tempo. Texto endereçado a um público consciente da abertura disciplinar, visto não se sentir limitado a interpretações de natureza apenas discursiva, mas voltado para questões cujo patamar alcança a altura de suas aspirações políticas e culturais.

ENEIDA MARIA DE SOUZA
Professora emérita da UFMG



O que acontece quando uma pesquisadora criteriosa e competente se debruça sobre a obra, em sentido pleno, de um dos mais completos artistas da cultura popular brasileira?        Surge um poderoso ensaio em que se misturam temas, nomenclaturas e contribuições que vão da crítica filosófica contemporânea às referências pontuais e poéticas retiradas da obra que se apresenta e discute. Tudo isto se mistura e vai além, gerando uma série de conceitos em atuação.
Comparecem ali também elementos de diversas performances, trechos de canções que então se organizam como base sutil para referências críticas bem claras. Nesse caso, basta observar sugestões, intensamente semantizadas, síntese de procedimentos poéticos como “purpurina”, “recaricaturar”, “refestança”, e dai por diante. Utilizando concepções cartográficas, a autora consegue percorrer matrizes culturais do compositor, que numa via de mão dupla passam a nos pertencer: Do sertão ao mar, de Luís Gonzaga a Dorival Caymmi, das veredas do grande sertão do Rosa (e quem dele escapa?) à Refavela, que não foge de Euclides e dos seus Sertões. Céu e Inferno passam pelas lentes da representação, com sutileza e sempre atenta à captação do gracioso trocadilho, o corpo reconsiderando, o nosso grande tecido barroco dilatado, ibericidade e africanidade misturados que nos envolvem e permeiam.
 O livro de Cássia Lopes se faz uma referência indispensável para uma travessia complexa e livre pela cultura brasileira, da tradição às vertentes mais inovadoras e em registro transformador. Sua pesquisa avança por vários segmentos da mídia, matérias jornalísticas, entrevistas e depoimentos, comparecendo nesta cena atores fortes e ativos, parceiros e dialogantes do artista.
Sorte de Gilberto Gil, a de ter encontrado tão boa intérprete, capaz de trazê-lo para nós, ainda mais vivo, intenso, uno e diverso e, sobretudo, dialogante pela graça de muitas poéticas e de seus desempenhos.

JERUSA PIRES FERREIRA
Professorado CJE/ECA/USP e do
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP